Todos os dias os noticiários
gritam em nossos ouvidos que é preciso fazer algo já. Imediatamente. E é para
termos o privilégio de fazer algo que cada um de nós estudou durante horas,
dias, semanas, meses. Anos. O que eu vejo aqui são mais de 600 pessoas que
querem realmente fazer a diferença e que não se satisfazem em simplesmente
escrever frases de protesto ou postar fotos chocantes nas redes sociais. Eu
vejo mais de 600 pessoas que querem fazer mais, muito mais do que apenas
reclamar. Na minha frente eu vejo um batalhão de homens e mulheres que sabem
que a força de nossa polícia federal não está nas pistolas ou nas algemas que
carregamos, mas na nossa sede de mudança, na nossa irrefreável vontade de fazer
um país melhor para nós, para nossos filhos e para os filhos de nossos filhos.
Sabem o que estou vendo? Estou vendo um monte de gente que tem plena
consciência de que reciclar latinhas, dar algumas moedas para as crianças no
semáforo ou fazer passeata pela paz vestindo branco e fazendo o símbolo da
pomba com as mãos não é o suficiente para ajeitar esse país. Já terceirizamos o
trabalho, terceirizamos a caridade e temos até redes sociais terceirizando os
relacionamentos, mas não vamos permitir que nossa vontade de mudar esse país
seja terceirizada. Queremos arregaçar as mangas e fazer nós mesmos. Talvez seja
por isso que esse lugar cheira a suor e a batalha. Para onde quer que se olhe o
que se vê são homens e mulheres que se propuseram a lutar por algo realmente
grande. Pessoas como eu e como vocês que tiveram a coragem de contribuir para
um país melhor e mais justo. Falo de esforço e superação. A superação que faz
com que consigamos correr mais e mais rápido mesmo debaixo de um sol impiedoso.
O esforço que faz com que nossas meninas superem o desafio das barras fixas, o
esforço que faz com que as caixas de areia fiquem lotadas todas as noites,
mesmo depois de um dia longo e cansativo de aulas. Falo da vibração de nossos
companheiros de sala à beira da pista de corrida a cada volta a mais que
completamos no TAF. Falo da constante e saudável disputa entre as linhas 1 e 2.
Falo dos muitos alunos que nadam bem devagar para dar tempo para que seus
companheiros que não conseguiram atingir o índice se recuperem para mais uma
tentativa na natação. Lembrem-se de que ninguém disse que isso aqui seria
fácil. Mas você ignorou todos os avisos e continuou seguindo seu caminho sem
olhar pra trás. Em nenhum momento você pensou em recuar. E assim transformou o
medo em coragem e o cansaço em força de vontade. Muitos pensam que é
brincadeira quando falamos o que passamos. Falo da tristeza de se despedir de
um amigo desligado. Falo de amizade e companheirismo. Falo da Academia Nacional
de Polícia.
Dentro de poucos meses teremos a
missão de investigar os muitos fraudadores, corruptos, traficantes, pedófilos,
estelionatários, terroristas, sequestradores, ladrões e marginais de toda
espécie que apostam na impunidade de seus atos e não raro são chamados de
doutor ou vossa excelência. Não precisamos citar nomes, todos sabemos quem são
os responsáveis pelo desvio da verba da merenda, pelo sucateamento da saúde
pública, pela perpetuação do trabalho escravo, pela evidente falência da
educação, pelo financiamento do tráfico de drogas. Todos sabemos quem alimenta
a miséria e se alimenta da miséria. Eles certamente acreditam que serão
poupados da justiça. Nunca serão. Eles pensam que serão inocentados. Nunca
serão. Vamos dedicar nossas vidas a limpar nossa sociedade e livrar o povo da
epidemia de corrupção que assola esse país e que mata mais, muito mais do que
qualquer doença. Estamos aqui para não dar descanso aos criminosos que matam
milhões de brasileiros apenas com uma caneta. Vamos fazê-los pensar três vezes
antes de meterem de novo a mão em dinheiro público. Não podemos obrigar as
pessoas a fazer a coisa certa, mas podemos dificultar bastante a vida de quem
tenta fazer a coisa errada. O país nos deu uma missão e todos aqui sabem o que
acontece com missão dada. Nossa tarefa é nobre e a nossa luta não tem nem freio
nem marcha a ré. Não podemos andar pra trás enquanto o filho do faxineiro não
puder estudar na mesma escola que o filho do senador, enquanto há tantos
desamparados pela falta de verba que foi desviada dos cofres públicos, não com
tantas mães perdendo seus filhos para as drogas. Só nos contentamos com a
vitória. Por isso, quando voltarem para suas casas, avisem a seus amigos e à
sua família que de alguma maneira vamos fazer a situação desse país mudar para
melhor.
Peço a cada um de vocês que ao
final da leitura dessa mensagem, quando os senhores forem bater palmas, que
essas palmas não sejam dirigidas a mim, mas ao colega que está ao seu lado.
Vamos aplaudir a nós mesmos com força e com vontade, para celebrar todo o nosso
esforço, para comemorar a vitória de tanto tempo dedicado exclusivamente a
chegar até aqui. Vamos aplaudir demoradamente toda a nossa garra, toda a nossa
vontade de vestir aquela roupa preta. Vamos festejar com aplausos todo o longo
caminho que tivemos que percorrer pra chegar onde estamos agora. Vamos lembrar
que somos todos um só, somos todos o mesmo grupo, seremos todos policiais
federais. Estamos passando por um momento de transição e por isso devemos
aplaudir aqueles que lutam por uma Polícia Federal cada vez melhor. Senhoras e
senhores, como diz a música, eu vejo a vida melhor no futuro, eu vejo isso por
cima de um muro de hipocrisia que insiste em nos rodear. E é por isso que eu
peço agora uma longa salva de palmas para todos nós."