A convite do novo amigo Claudio resolvi escrever um pouco
sobre minha trajetória dentro desta casa que conhecemos por DPF.
Sempre tive o sonho de entrar na PF, como muitos aqui! Aos
22 anos me formei na faculdade e a primeira coisa que fiz foi entrar num cursinho
especializado. Minha família que sempre teve uma boa condição social era contra
e por isso tive que usar de artifícios para seguir em frente. Mergulhei nos
estudos, pela manha no cursinho e a tarde em casa... Após 6 meses de estudo
veio a bendita prova da Cespe. Alguns dias depois o resultado e voilà!!
Estava acima da nota de corte mas entre os últimos
colocados. Sabia que as provas física, medica e psicotécnica seriam decisivas e
assim foram. Fui aprovado mas fora do numero de vagas. E assim começaram as
convocações para a ANP, 2 em 2005, 2 em 2006, e a esse ponto já estavam
convocando quem estava acima do numero inicial de vagas mas eu ainda era um dos
últimos! No dia da segunda chamada de 2007 lembro que acordei e fui direto pro
computador, sem esperança alguma, queria apenas ver o quanto ainda teria que
esperar. Mas para minha surpresa lá estava o meu nome, como ultimo chamado, eu
não acreditava naquilo, li umas 10 vezes pra me certificar ate que a ficha caiu
e não consegui conter as lagrimas, um choro de alegria, de dever cumprido, de
sonho realizado, gritei como nunca! Sabia que nada mais poderia tirar aquilo de
mim.
Em agosto de 2007 aterrisei em Brasília e iniciei o curso na
ANP. Como naquela época não era internato optei por ficar fora da academia. Não
entrei na neura que alguns ficam quando estão la dentro, me dediquei mas sem
deixar de ter meus momentos de lazer, afinal sabia que ia para algum interior
do Para. Em dezembro do mesmo ano tomei posse como APF e no mesmo dia entrei em
exercício. Casa nova, vida nova, emprego dos sonhos, cidade nova, amigos
novos... Tive a sorte de ter como primeira lotação uma delegacia excelente, com
um clima sensacional onde aprendi muito, vigilância, analise, campanas...
Éramos uma família! Fomos considerados por 3 anos a melhor delegacia do Norte
pelos trabalhos realizados. Por isso tive o privilegio de realizar diversos
cursos tanto na área operacional como na área de inteligência (assunto pra
outro post!). Aos poucos os
colegas foram sendo removidos e a equipe se dissolvendo e eu apos 3 anos fui
para o Sul, trabalhar na tríplice fronteira. Ao chegar em Foz fui recebido
ainda no aeroporto pelos colegas do NEPOM, onde assumi meu posto e estou ha 4
anos. Durante estes 7 anos conheci muitos lugares, tive oportunidade de
trabalhar em missão em outros tantos e posso afirmar sem medo de errar que não
ha lugar mais operacional do que o NEPOM Foz. Aqui me especializei em Operações
Anfíbias e passei pelas situações mais alucinantes que se possa imaginar,
aprendi, apreendi e prendi muito, muito mesmo, ao lado de uma equipe que e
referencia no mundo naquilo que faz, colegas que estão sempre prontos pra
enfrentar qualquer parada lado a lado. Se fizermos uma media dos últimos 3 anos
nossos números mostram aproximadamente 15 toneladas de maconha, 90 embacações,
300 veículos e 40 milhões em apreensões anuais. Aqui somos amados, odiados,
invejados e ainda assim permanecemos firmes e fortes.
Nossa estrutura e equipamentos são frutos de conquistas e de
lutas internas, onde nos mesmos corremos atrás daquilo que necessitamos. Muitos
reclamam da falta de equipamento mas nunca moveram uma palha. Difícil resumir
em linhas o que realizamos por aqui, em tese somos responsáveis por todo o
contrabando, droga e armas que vem do Paraguai tanto pelo Rio Paraná quanto
pelo Lago de Itaipu. Estouramos depósitos, apreendemos embarcações, perseguimos
carros, temos intensas trocas de tiro, seja com traficantes ou com a marinha do
Paraguai, ministramos cursos, damos apoio a roubos de carga, banco, transporte
de valores, presos de alta periculosidade, enfim... A escala de trabalho aqui e
bem diferenciada, não cumprimos
expediente, fazemos os nossos horários de acordo com a demanda, e todo nosso
tempo de serviço e na rua ou na água! Ainda assim acabamos ultrapassando em
muito as horas mensais. Fazemos porque somos loucos por isso, cada um aqui ama
o que faz e da o sangue. Temos um canal no youtube com nossos videos:
www.youtube.com/nepomfig Contudo,
como todos sabem a PF passa por uma situação muito delicada e isto começa a
refletir no nosso trabalho, temos muitos colegas desanimados e os números
despencaram, confesso que sou um deles, chegamos a um ponto que não da mais pra
suportar. Difícil resumir tudo em um único texto, portanto se alguém quiser saber
algo mais, detalhes, curiosidades, fique a vontade, tentarei ajudar ao máximo.
Não desistam dos seus sonhos. Verão que ao alcançá-los terá valido muito a
pena.
Um grande abraço.
APF Rafael R S